Nestes dias tenho me lembrado muito de uma parte da mitologia do Deus nórdico Odin – um Deus Pai daqueles cheio de atributos: Senhor da Guerra, Senhor da Magia, Criador das Runas e uma lista enorme.

Odin não é um Deus “pronto”, ele é mais como nós – fazendo o Caminho da Consciência. Ele tirava longos períodos para práticas espirituais que o elevavam a novos conhecimentos. Diz-se que ficou nove dias e nove noites pendurado na Árvore da Sabedoria – Igdrasil – e da ferida que a corda criou nos seus tornozelos caíam gotas de sangue e cada gota ao chegar ao chão se transformavam em uma Runa. Ao final da jornada, Odin pressentiu que ali tinha algo importante para entregar à humanidade, mas não conseguia acessar o Conhecimento Sagrado que havia ali. Então foi até Mimir – um gigante cuja cabeça ficava boiando na Fonte da Sabedoria e que era considerado “o ser mais sábio do mundo” – e perguntou sobre as Runas.

Mimir sempre pede algo em troca de seus conhecimentos (vem daí a tradição de jogar moedas e fazer pedidos nas fontes europeias). E para Odin ele pediu o olho esquerdo, simbolizando o processo de cegar-se para as ilusões do mundo e acessar a sabedoria espiritual.

Odin deu o olho esquerdo a Mimir e acessou a sabedoria das Runas que, em seguida, ofereceu como um presente precioso à humanidade.

Em janeiro operei meu olho esquerdo de catarata, colocando uma lente que deveria me dar uma visão perfeita. No décimo dia após a cirurgia meu corpo desenvolveu uma síndrome inflamatória chamada de Invine-Gass que é um edema na mácula e que deixa a visão como se tivesse um véu na frente. Fiquei com 20% da minha visão. E começaram os tratamentos possíveis e os energéticos também. E na semana que escrevo estas linhas, recebi a notícia que a inflamação (que já está curada) atingiu meu nervo ótico e não há mais possibilidade – dentro do que a medicina sabe – de recuperar a visão.

E neste processo de aceitação que eu estou, tem duas linhas paralelas – a do luto por algo importante que se perdeu e a atenção para as bênçãos de sabedoria que poderão vir com o acontecido.

Não precisam perder tempo me indicando tratamentos alternativos, só me enviem amor, pois eu já estou em tratamento com tudo o que pode me ajudar na Medicina Integrativa, para além da Medicina Convencional. Mas tem uma parte também que é importante: não perder energia lutando com “aquilo que é”, com o que já aconteceu. Guardar a energia para esta cura milagrosa que pode ser possível. Mas considerar que esta perda importante da visão – eu que sou pintora, escritora e professora, atividades que enxergar é importante – pode ajudar, como a Odin, a descobrir sabedorias e profundezas que antes não estavam disponíveis.

E também, neste adaptar a esta limitação, quem sabe me permito mais descanso, eu que sempre quero aproveitar cada segundo da minha vida para dedicar à Grande Deusa, meu Caminho, meu Serviço, minha Devoção.

Eu sempre digo para meus clientes e alunos:

– A Vida é misteriosa, não sabemos. Então não vamos julgar uma situação como boa ou má, vamos apenas vivê-la e ver qual Mistério se desvela diante de nós.

E este é o meu convite para você hoje: o que quer que seja que você esteja vivendo, que olhe o panorama maior e – se ainda não sabe – aguarde qual Milagre a vida está querendo operar.

Faz sentido para você, Querida Pessoa?