Chegou o último dia do ano de 2020 e apesar de todo o meu esforço para ficar no lado luminoso dos desafios, cheguei aqui de “saco-cheio”, o que quer dizer exausta, sem paciência, incomodada com o que – lá fora e aqui dentro de mim – parecem padrões imutáveis.

Eu sonho um mundo com os valores da inclusão, do amor e da compaixão – valores da Grande Mãe – de volta aqui na Terra, mas o quão longo está sendo o Caminho me exaspera. Mesmo sabendo que são milênios nesta transição e que agora estamos bem mais perto, hoje me dou o direito de estar ranzinza e cansada.

Me dou ao direito de cobrar ao Universo os milagres e os sinais que me farão renovar as forças e seguir “abrindo o mato” – numa maneira bem do Deus Ogum – para ajudar a criar e a implementar a Nova Terra – a tal “terra prometida aos seres de bom coração”.

Mas navego num Brasil tomado por uma loucura coletiva que mais parece a Idade Média – onde os avanços da ciência e os dados numéricos de uma pandemia ceifadora de vidas parece não tocar as pessoas, que lotam as praias, bares e restaurantes, como se não houvesse amanhã. Talvez não haja, e estejamos vendo a derrota na batalha contra o lado sombrio e egoísta das pessoas. Ou quem sabe, se saio deste lugar cômodo de julgar as pessoas e ser “superior” aos que estão aí – eu encontre estas mesmas pessoas de “saco-cheio” e “chutando-o-pau-da-barraca”, simplesmente se colocando acima da foice da Morte. Ou quem sabe, encontro pessoas que não aguentam mais a pressão e resolveram oferecer-se – em aparente alegria – para que a Morte venha e os leve. Dizem os Consteladores by Bert Hellinger que quem se coloca em tal risco, inconscientemente deseja que a vida acabe. E, quem sabe, não queiram ir sozinhos – queiram levar família, amigos, vizinhos. Como os egípcios que ao morrer eram enterrados junto seus familiares, bens e escravos – para que tivessem tudo o que poderiam precisar no outro lado da vida, na suposição que lá fosse como aqui, só que melhor – esta ideia danosa que nos aparta de reconhecer o paraíso perfeito que é o Planeta Terra.

Por isso hoje – no último dia deste desafiante ano de 2020 – me dou o direito ao cansaço, à revolta, ao medo de que nada mude, mesmo com todo o meu esforço. Se me conheço um pouco, vou navegar aí por este momento delicado e emergir. Quem sabe um pouco mais dura, porque convenhamos, Querida Pessoa, vivemos tempos em que a Força nunca foi tão necessária. Me esforço para manter a Força verdadeira – molinha e flexível – a não sucumbir à falsa força que é rigidez, julgamento, orgulho. Mas não está fácil, irmã/irmão de Caminho. E na minha abordagem pessoal, a Sombra tem um lugar na Roda. O que não significa que a Luz não esteja presente. Como eu gosto de dizer: “que a Luz seja a Guia, que a Sombra seja a Mestra”.

Vou respirar. Vou levantar minha taça nesta lua cheia, vou unir as mãos em oração e vou pedir as forças da Luz & do Bem que tragam esperança e resiliência. Mas hoje me dou o direito de simplesmente não resistir, nem à tristeza, nem ao cansaço. Afinal, como tantos, sou apenas humana.

Ressoa para você, Querida Pessoa?