Mulher Multante. Acrílico sobre tela. Arte Curativa de Cler Barbiero.

Mulher Multante. Acrílico sobre tela. Arte Curativa de Cler Barbiero.

Ao longo de quase duas décadas, a Deusa tem sido o meu Caminho. Tenho bebido de todas as fontes, culturas e religiões, o doce sumo da suave presença da Mãe Sagrada. Nesta categoria vou compartilhar com você minhas visões, rituais e informações que fui coletando ao longo da estrada. O Deus, Divino Consorte da Deusa, também será contemplado. Afinal, não há equilíbrio possível do Feminino sem a presença do Masculino.

Caso queira conhecer o Sistema de Cura que Ela me confiou, acesse: www.floraisdadeusa.com.br

A MEMÓRIA ANCESTRAL DO MATRIARCADO

“A Deusa está imersa nas profundezas do inconsciente coletivo e pessoal; qualquer sistema de pensamento ou prática que pretenda abrir o inconsciente permitirá visualizá-la.” (Vicki Noble)

Durante 30 mil anos de nossa existência neste planeta, desde a Era Paleolítica, a humanidade era matriarcal, quase em sua totalidade. A divindade era feita à imagem da mulher. O Deus patriarcal, único e onipotente, que não tem uma Deusa Consorte a seu lado, foi uma realidade que levou mais ou menos mil anos para se estabelecer e é relativamente jovem: sete mil anos. Marija Gimbutas, uma arqueóloga dedicada a descobrir e catalogar imagens da Deusa, reuniu um acervo impressionante que mostra o culto à fertilidade ao longo de diversas eras. Segundo a versão de muitas autoras e autores estudiosos do assunto, a mulher, principalmente pela sua capacidade de gestar e pelo mistério da menstruação, por suas qualidades lunares e cíclicas, sua capacidade de trazer melhorias em prol da sobrevivência de seus rebentos (a tecelegem, os potes cerâmicos para cozinhar, a agricultura e a irrigação são criações femininas) foram sempre vistos como uma manifestação da Divindade. Nestas culturas, a Sacerdotisa ou curandeira era o centro da comunidade – ela podia ter bens, realizar transações e contatos com outras tribos e os filhos recebiam herança e nome da família da mãe. Diz Vicki Noble: “Em tempos antigos, a veneração à Deusa era acompanhada por uma cultura centrada na mãe. Nancy Tanner, comparando o desenvolvimento humano com o dos chipanzés, supõe que a inovação chave para o desenvolvimento humano desde nossos ancestrais símios foi a coleta de plantas e pequenos animais, como insetos, para compartilhá-los com suas crias. Segundo este ponto de vista, a cultura emergiu, em parte, do ato de preocupar-se com os outros e coletar a generosidade da terra e não do ato de matar. Suas deusas ofereciam nutrição e acolhida.”

Neste período e até depois do advento do patriarcado (na Grécia antiga, por exemplo) a Terra e a Natureza eram vistos e sentidos como a Grande Mãe.

Ártemis antiga

A experiência de uma Mãe Sagrada provedora está em nosso inconsciente coletivo. Em torno de sete mil anos atrás, tribos guerreiras foram subjugando as tribos matriarcais e, lentamente, através do “casamento” do Deus invasor com a Deusa local, com a subseqüente retirada de poder desta, o patriarcado foi se estabelecendo. Uma estratégia extremamente bem sucedida, especialmente da Igreja católica, foi construir igrejas dedicadas à Virgem Maria nos locais onde havia templos da Deusa. As imagens de Ísis com o menino sagrado Hórus, foram substituídas por Maria com o Menino Jesus. Os festivais e datas comemorativas da religião da Deusa foram substituídas por festivais dedicados a santos e assim, ao longo destes 7000 anos, o patriarcado se estabeleceu como religião vigente primordial, com exceção dos países orientais, onde a Deusa é honrada até hoje, ainda que a mulher tenha deixado de ser vista como “pérola do colar da Deusa” e manifestação de Seu Poder na Terra, e tenha entrado igualmente no sistema de opressão e menos valia que ainda vigora em muitas de suas comunidades.

Nos últimos 500 anos se destruiu mais a Terra do que em todo o resto de tempo que nós, humanos, habitamos este planeta. Quando deixamos de considerar o planeta como mãe, quando começamos a achar que toda a natureza e todos os seres pertencentes a ela são de “segunda categoria”, colocados aí para servir os “reis e rainhas da criação” (nós, é claro), o desastre começou. Eu posso matar, destruir e poluir algo que é separado de mim, que é escravo de meu bem estar e prazer. Quando nós, como humanidade, começamos a ter medo do futuro e a nos sentirmos fora de uma Unidade com a Mãe Terra, nossa segurança básica se rompeu. Restaurar a presença da Mãe Divina em nossa vida, permitir que a Deusa caminhe novamente sobre a Terra, recebê-la em nosso altar interno e externo, é condição básica para a restauração em nossa crença no futuro.

Sejamos homens ou mulheres, quando estamos conectadas (os) com a Mãe Divina, nosso senso de merecimento, de pertencimento e de valor se ativam. Os homens e mulheres estão perdidos um do outro porque a Deusa foi alijada do coração humano.          Todo o trabalho dos Florais da Deusa, projeto por mim co-criado e cuja Chama Sagrado sou guardiã, está dedicado à restauração do caminhar da Deusa na Terra. Seus passos precisam re-tecer a teia da vida e trazer de volta o re-equilíbrio planetário. Sem o senso do cuidar, do receber e do respeitar os ciclos, tão presentes na cultura e costumes matriarcais, não há esperança para as próximas gerações. O senso de abundância, de fertilidade e de completa presença do Sagrado em nossa vida diária é um segredo que é descoberto quando abrimos o baú ancestral e lá, luminosa e sorridente, encontramos a Deusa. Como diz uma velha oração à Deusa, em versão de Starhawk:

“Permitam que haja em vós beleza e força, poder e compaixão, amor e humildade, gozo e reverência. Tu que anseias me conhecer, deves saber que tua busca não será proveitosa, a menos que conheças o mistério: se o que buscas, não encontras em ti, nunca o acharás fora. Eu tenho estado contigo desde o início dos tempos e sou a obtenção final de teus desejos.”