Young man in prayerful attitude

A cada vez que a folha se mostra em branco à minha frente uma emoção me toma. Embora nunca o que é escrito consiga traduzir as maravilhas que estão na minha mente  (as palavras são tão limitantes!), é sempre uma aventura prestes a começar.

E hoje precisamente quero falar da grande aventura que é viajar para Dentro – este grande, inóspito e maravilhoso Continente que está escondido dentro de cada pessoa. Somos seres estimulados a viajar fora – num determinado lugar seremos felizes; com determinada companhia (e sua compatibilidade única conosco) seremos, finalmente felizes; saindo, indo a uma festa, fazendo um retiro de três anos num mosteiro budista, finalmente – finalmente! – seremos felizes.

Sim, é certo que determinados lugares propiciam MOMENTOS de felicidade. Mas o único lugar a ser alcançado, um lugar de descanso, de completude e paz, está dentro de nós.

Porém, quando vamos para dentro, encontramos também o palpitar da ansiedade, das expectativas que temos para o Futuro ou mesmo as culpas, arrependimentos e saudades que temos do Passado.  E, sempre – sempre! – o Senhor Medo. De sofrer de novo, de entrar em contato com algo que não conhecemos a nosso respeito e que pode mudar toda a “ordem vigente”, que deu tanto trabalho para construir! Medo também de encontrar as nossas potencialidades – as sementes do que ainda podemos realizar – maduras e à espera de um plantio. Tardio, é certo. Mas como diz o ditado popular “antes tarde do que nunca!”.

Li uma vez uma história, não me lembro onde. Havia um mendigo que sempre estava sentado sobre um velho baú todo arranhado, mas sólido ainda. Um homem vinha lhe trazer uns trocados e sempre lhe perguntava:

– O que tem dentro do baú?

O velho mendigo respondia:

– Nada. Sempre esteve aí. A vida inteira tenho sido mendigo e tenho sentado sobre ele. Não há nada aí.

– Você já olhou? – indagava o homem.

– Nunca. Não precisa. É um velho baú retirado do lixo, o outro mendigo que o usava me disse que não tem nada.

– Olhe dentro do baú – dizia misteriosamente o homem.

O mendigo dava de ombros e não olhava. Nunca olhou.

Quando o mendigo se foi, ao recolherem o corpo enrijecido pelo frio após uma noite especialmente gelada, os bombeiros abriram o baú, pensando encontrar aí a identidade ou pertences pessoais do mendigo, para assim informar à família de sua passagem. E encontraram um tesouro em joias antigas, enroladas em trapos e escondido embaixo de roupas velhas comidas pelas traças.

Assim são os que têm medo de fazer a viagem para dentro de si mesmos, onde os esperam os tesouros incríveis e impressionantes que mudariam sua vida.

Meu convite hoje é simples: olhe-se sem julgamento. Pense em todos os dons que você se descobriu tendo quando criança e que desistiu de realizar – por conveniência, por falta de oportunidade, por medo de não ser bem sucedido. E ache uma maneira de retomar a manifestação destes talentos, nem que seja na forma de um hobby, de uma atividade de final de semana ou o que quer que caiba na estrutura de sua vida. E, se você for ainda mais corajoso, ouse quebrar esta estrutura para construir uma nova, usando os tesouros e os tijolos que vai encontrar nesta jornada para dentro.

– Estou deprimido – talvez você me diga.

– Não acredito mais  nisso – talvez outra voz se levante na multidão.

– Estou cansado de tentar – outra voz lá no meio de todo mundo.

– Hum-hum – talvez concorde toda a multidão ao seu redor.

Ainda assim, aqui segue meu persistente convite: escolha um Caminho, que pode ser um tratamento que traga “recursos” para a sua Jornada Rumo a Si Mesmo. Ou quem sabe, deixe os seus olhos passearem na prateleira de livros de uma livraria grande e deixe um livro puxar você e inspirar você nesta retomada. Aconteceu comigo recentemente. Uma única frase no prefácio de um livro me fez recuperar um continente inteiro que jazia esquecido dentro de mim. Ainda estou lidando com tudo o que este “pedaço de Alma” voltando para casa trouxe em termos de mudanças e novas possibilidades.

Mas isso me fez palpitar de vida, esperança e criatividade. Uma sensação maravilhosa. E estava tudo lá, dentro de mim, desde os dezessete anos. Agora estou com 49 e voltou para mim. Portanto, sou a prova viva de que é possível.

Convido você a olhar curioso Para Dentro – este lugar onde num primeiro momento você verá as dores, as partes faltantes e as rachaduras. Mas que se você tiver dedicação e paciência, logo um Novo Mundo vai se revelar. Esse mesmo que está aí – bem aí – adormecido no Centro de Você Mesmo!