Onde perdemos o fio da vida? Onde quebramos, onde fomos engolidos e soterrados por algo que foi maior do que nós?

Onde nossas escolhas nos levaram a lugares inesperados, felizes ou infelizes?

Onde perdemos a estrada? E por quê? Onde perdemos a rota para encontrar outro caminho, antes impensável e inaceitável?

Onde fomos irrevogavelmente devorados, para que pudéssemos nos recriar, parte a parte, pedaço a pedaço?

E onde (onde?) nos seguramos nos fios do amor e começamos a fazer o caminho de volta, depois de vencer os desafios mais apavorantes?

Quem somos nós na imensa fila de vidas que nos antecede e que nos sucederá, um fio infindável de histórias que se justapõem, histórias que muitas vezes se repetem e outras tantas onde o fio se quebra para nunca mais tenhamos que novamente trilhar aquele caminho, com aquelas pessoas, com aqueles aprendizados?

Desenhado nas curvas suaves de nosso DNA, impresso nas memórias sutis de tantas experiências, o fio de quem somos se guarda e se esconde num único lugar, sempre: dentro de NÓS mesmos, onde todas as perguntas certas e todas as respostas adequadas estão disponíveis.

Mas então, onde perdemos o fio de nossa própria sabedoria, a sabedoria amealhada em tantas experiências, em centenas de vidas, em centenas de diferentes Sistemas a que fizemos parte? Onde (onde?) perdemos nosso “fio de Ariadne”?

O MITO

Conta o mito que existia em Creta um labirinto onde uma criatura metade touro, metade homem, exigia que a cada ano o sacrifício de sete donzelas e sete jovens homens vindos de Atenas, que devia tributos ao rei de Creta, Minos. Se o tributo não morria nas mãos do monstro, morria perdido em meio ao impossível labirinto construído por Dédalo. Então o jovem Teseu, filho do rei ateniense Egeu, ofereceu-se para matar o Minotauro. Lá chegando, foi imediatamente amado por Ariadne, filha do rei Minos. Esperta e acossada pela ideia de perder o Escolhido-de-Seu-Coração, engendrou uma estratégia simples e eficaz: um novelo de lã e uma espada muito bem forjada e afiada. Segurando uma das pontas do fio, confiando nas capacidades do herói, deixou seu amado adentrar o labirinto, matar a fera e tateando pelas paredes curvilíneas, segurando firme o fio do amor, chegar são e salvo ao outro lado. O mito continua, mas é esta parte especial da narrativa que nos interessa, pois é com ela que estamos fazendo um paralelo com o que nos acossa, com o que sacrificamos de nós mesmos em nome de qualquer poder – emocional, financeiro ou de qualquer outra natureza.

Então, volto a lhe perguntar: quando foi que você desistiu de apertar firmemente a ponta segura do amor e se perdeu nos labirintos do medo, do sacrifício ao poder negativo?

E na outra ponta desta pergunta: quando foi que você reencontrou este fio perdido e uniu-se a si mesmo novamente?

E pergunto mais: o que quebra os fios do amor e o que os reúne? O que, para você, é rompimento e o que é cura? Se você sabe a resposta a estas duas perguntas, é simples, simples: você dá força, foco e ação ao que reúne os fios do amor; você não coloca energia, foco ou pensamento no que os destrói. Simples assim, Querida Pessoa!

CONEXÕES QUE DESVENDAM O LABIRINTO.

Todos nós precisamos de conexões que nos sinalizem em que Parte ou Lugar do mundo habitamos. Precisamos do espelho do outro e, frequentemente, do apoio e da presença do outro, para enfrentarmos nossos Minotauros particulares. Mas, muitas vezes, se olharmos a estrada traumática que descansa atrás de nós, que percorremos desde o berço ou às vezes até mesmo antes dele, justamente os relacionamentos têm representado os labirintos, as armadilhas, os sacrifícios. Justamente os relacionamentos são os espelhos onde vemos o quanto nos sentimos não recebidos, estranhos no ninho, inúteis potenciais que nunca desabrocharam completamente.

Onde localizar seus esforços, então? Em si mesmo, em suas curas em quem você É.

É uma Verdade batida: você tem que ser a PRIMEIRA pessoa que se acolhe. Se você se critica, se recebe mal, se você é aquele que sempre tem uma frase mordaz para seus sucessos e insucessos, seu corpo, suas tentativas frustradas ou felizes de sair do Labirinto, COMO VAI CONECTAR CORRETAMENTE E NUTRITIVAMENTE COM OS OUTROS, SE TEM UMA CONEXÃO DOENTE CONSIGO MESMO?

O que fazer – o que fazer? – você me pergunta alarmado.

Comecemos assim: pare agora por um minuto e simplesmente se abrace. E diga baixinho:

– Você tem feito tudo muito bem… Você é uma pessoa boa… Você merece coisas boas em sua vida… (e continue dizendo tudo o que sua emoção lhe fizer brotar nos lábios).

Tome todo o tempo que precisar.

Isso é o Fio de Ariadne, Querida Pessoa: quando você de fato SE RECEBE como É, do jeito que É e do jeito que conseguiu chegar. Porque se a vida lhe colocou em tempestades cruéis – e quem não passou por uma, duas ou várias dessas – você não quer ter chegado de volta ao cais ileso, sem ter perdido a juventude, o viço, e sem nenhuma marca.  Sua Alma tem centenas de anos, você é um Ser Velho Como o Tempo, como você não quer carregar as marcas de todos os aprendizados? É sempre uma escolha – você pode focar nas marcas, arranhões e danos, ou pode focar no fato de que VOCÊ CONSEGUIU CHEGAR DE VOLTA AO PORTO!

E trazendo na sua bagagem estas histórias para contar de como sobreviveu aos raios, aos trovões, às ondas de 20 metros no mar selvagem que foi a sua vida em alguns momentos. E talvez, como eu, você queira se tornar um professor de como se enfrenta e vence estas viradas da vida, que ferramentas se usam, que instrumentos conduzem a um novo e refrescante começo. Talvez você tenha pegado aquela rota “errada”, para poder chegar ao lugar certo e saber que, tudo nos conduz aonde temos que chegar. Mesmo que cheguemos com o casco rachado, as velas esfarrapadas e rangendo as partes mais velhas de nós, carregaremos aquele brilho nu e limpo de quem sobreviveu, aprendeu e se descobriu forte como nunca se imaginou ser capaz.