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Falar na primeira pessoa é muito difícil. Costumamos ou falar na terceira – você ou tu – ou então generalizar para o “nós”.

Quem diz “nós”, está se referindo aos outros e se colocando de fora, como um julgador. Tenho estudado nos últimos anos uma técnica desenvolvida por uma americana chamada Mukara Meredith. Esta fantástica síntese das dinâmicas relacionais foi chamada por ela de Matrixworks. Tem muitas coisas interessantes lá, mas para mim uma das mais preciosas é a importância de se falar na primeira pessoa.

Antes de entrar no entender, vamos ver uns exemplos:

3ª Pessoa: “Você não se importa com o que eu preciso.”

1ª Pessoa: “Quando você age assim eu me sinto como se você não se importasse com o que eu preciso.”

3ª Pessoa: “Você não se entrega para a minha guiança. Tem medo de encontrar este lugar interno onde já foi ferida.”

1ª Pessoa: “O que eu sinto em mim é como se você não se entregasse à minha guiança. Eu fico pensando se pode ser medo de encontrar este lugar onde você já foi ferida. O que você sente quando eu lhe falo isso?” (Aqui uma coisa importante: falar na primeira pessoa é devolver a fala, é não ser “dono da fala”, é dar ao outro a chance de respirar depois de um feedback que pode nem ter sido solicitado pelo outro.)

3ª Pessoa: “Você é fraco e desempoderado e não está disposto a mudar isso.”

1ª Pessoa: “Eu quero muito ver você forte e empoderado. É uma coisa que iria alegrar meu coração. Você quer isso também?”

Você reparou, não? A fala na primeira pessoa é sempre mais longa, tortuosa e gentil. Sabe por quê? Usando uma frase da própria Mukara, “a janela para feedback é muito estreita” e, freqüentemente sobrecarregamos nosso ouvinte com uma torrente de conclusões, sem a menor chance de defesa. Normalmente isso está “entalado” em nossa garganta e simplesmente “despejamos” no colo de nosso interlocutor. É importante que falemos uma coisa de cada vez e sempre (sempre!) na primeira pessoa, pois este tipo de fala traz a responsabilidade sobre o que está sendo dito para quem fala e, mais do que tudo, mantém as portas do diálogo aberta. A pessoa sente que é bem vinda, aceita, respeitada e amada – aquelas qualidades básicas que estão no cerne da sensação de segurança nos relacionamentos.