Ancorada neste porto seguro que chamo de lar, me divirto com pequenas coisas:

Raio Potter – o Gato do Rabo Torto – empoleirado num lugar alto demais para seus quatro meses de idade mia ao vento clamando por ajuda.

Spyke, o cão, com sua inseparável bola azul provocando com o olhar: – Vamos brincar?

Mel com seu garbo de Gata Rainha da Beleza, se esquenta ao sol, enquanto de olhos semicerrados rastreia a brisa suave, contabilizando pistas que vem de longe.

As flores plantadas ontem começam a tomar posse de sua nova casa no corpo da Terra, ainda sem acreditar que suas raízes agora podem se expandir indefinidamente. Vejo em cada muda a luta por livrar-se da impressão deixada pelo continente apertado do vaso. Escuto o chamado da vida, sussurando para cada uma delas: – Vamos, vamos, experimente!

A lua estupendamente cheia de ontem deixou um rastro de milagre sobre as plantas e os bichos. (Incluo-me nas duas categorias: plantada minha presença está nesta Terra onde meu animal humano ama viver.)

No silêncio da casa temporariamente ausente de crianças, escuto meu Pulso e celebro cada pequeno milagre: a nova onda de flores do Jasmim-do-Poeta, a cor indecorosa das Orquídeas de Cabo, a touceira poderosa e selvagem da Lavanda, as bananeiras quietas, projetando uma abundância futura para o verão, enquanto se protegem do frio-quase-inverno. Tudo isso iluminado pelo sol da manhã.

E em meio a estes e outros tantos milagres que este pequeno oásis me propicia, penso:

– Como podemos estar focados em idéias de escassez rodeados de tanta abundância?