Os três ciclos que estão continuamente acontecendo em todos os grupos.

 

 

Trabalho com um modelo de dinâmica de grupo chamado Matrixworks, desenvolvido pela americana Mukara Meredith (www.matrixworks.org) . Em sua síntese ela observa que estas três fases – Inclusão, Caos (ou Criatividade) e Consciência (ou conectividade mútua) – estão sempre acontecendo.

De modo geral, gostamos muito da fase de Inclusão, pois atende o nosso desejo profundo de pertencer, aquela nossa “programação básica” de vínculo, seja com família de origem ou a família “do coração”, que são as pessoas que escolhemos para estar em nossa vida. Porém, de tempos em tempos entramos numa fase que, de modo geral, não gostamos de atravessar – o Caos, que prefiro nomear Criatividade ou Infinitas Possibilidades. O Caos é como a reforma de uma casa: o planejamento é maravilhoso: olhar as plantas, ver materiais e mostruários, ver exemplos em revistas cujas fotos lindas, cuidadosamente produzidas, nunca revelem o DURANTE, apenas o ANTES e o DEPOIS. Quando estamos na confusão de paredes desmanchadas, pisos retirados, pessoas estranhas em nossa casa, entra e sai onde é o nosso Espaço Sagrado, desequilibramos. Pode falar com dez pessoas que fizeram uma reforma e dez delas sentiram assim. Mas quando a poeira assenta, o novo é colocado e podemos nos acomodar nos novos espaços criados, a sensação é maravilhosa e tudo vale a pena.

O Caos é importante nos grupos porque se ele é conduzido com sabedoria e competência, se chega do outro lado com um novo nível de conectividade mútua. Mas, não gostamos do Caos, gostamos do Antes e do Depois, mas não gostamos do Durante, porque temos dificuldade em permanecer com o incômodo.

Num dos meus Círculos de Mulheres Avançado, uma das participantes chamada Andréa me disse num abraço, se referindo ao Caos: “se a gente não está bem AINDA é porque o processo AINDA não terminou”.  Mas não queremos estar presentes no AINDA, onde nos sentimos mal, onde queremos passar rápido para a próxima fase, mascarando sentimentos como raiva, medo e sentimentos de não pertencer. Esse é o grande desafio do Caos – permanecer nele. Mas permanecer com uma qualidade de PRESENÇA, com o Observador Interno alerta, tentando entender o que é meu, o que é do outro e o que o outro está espelhando sobre mim mesmo e que eu projeto nele ao invés de reconhecer em mim.

De modo geral, o que tenho visto nos ditos “grupos de auto desenvolvimento”, especialmente os direcionados para “a luz”, é que não há espaço para Sombra. Há pressa em resolver conflitos, que são solucionados com a mente e não com a inclusão da bússola do coração e do instinto (leia-se corpo físico). Mas o coração é rebelde e se algo é colocado para baixo do tapete ou um de seus caldeirões fica fervendo tampado, um dia tudo explode e é quando lindos e grandes projetos vão por água abaixo, afogados em conflitos infindáveis, onde os participantes não se sentem bem recebidos, respeitados e amados.

Em meus grupos, eu costumo dizer – “que a Luz seja a Guia, que a Sombra seja a Mestra” e convido a Sombra para “sentar” na Roda. Porque os períodos de contato com as Sombras mais escondidas são momentos preciosos que podem levar um grupo à ruptura ou a um nível de profunda conexão, que é o terceiro e precioso ciclo que todos buscamos – Conectividade Mútua ou como eu chamo, Infinitas Possibilidade de troca e pertencimento.

Isso vale para todos os grupos: família, amores, trabalho, estudos, espiritualidade. Quando temos coragem de permanecer no incômodo, quando podemos sentir e manifestar os sentimentos negativos e continuar PERTENCENDO, o grupo cresce para um novo patamar de consciência e inclusão. Mas, uma coisa importante: falar NA PRIMEIRA PESSOA, isto é: “eu sinto”; “eu acho”; “eu penso” e não “você fez isso, você fez aquilo”, e também sem usar o “Nós Real” (“nós devíamos”, “nós como grupo” e por aí vai), sem dar feedbacks a não ser que tenham sido solicitados e a pessoa estar preparada para recebê-los. Quer se aprofundar no assunto, leia outro post deste blog: Falando na Primeira Pessoa.

O segredo é permanecer focado no próprio processo e no processo grupal, falando na  primeira pessoa e mantendo um continente de aceitação, compaixão e amorosidade para com o outro.

E sem esquecer que o incômodo, como escrevi no post A Energia Vermelha do Incômodo, tem a função de trazer o movimento que deságua na transformação. Porém, para que isso aconteça é preciso direcioná-lo para si mesmo ao invés de projetá-lo no outro, porque quando nossa energia se volta para a auto transformação e desistimos de ser o “salvador” do outro ou do grupo, todas as dinâmicas se renovam.

E talvez alguns de vocês ficaram “mexidos” com a leitura deste post. Talvez não lhe pareceu tão agradável como os outros posts que você já leu neste blog. Tome um momento, rastreie o seu corpo e veja como este assunto é “pesado”. Sentiu? É assim porque ele mexe com todas as memórias que temos das nossas feridas que aconteceram em grupos familiares, profissionais ou outros onde não nos sentimos amados, respeitados e bem vindos. Se você está se sentindo assim, respire, dê uma espreguiçada boa, faça um som “aaaahhhhh” e sacuda os ombros, deixando este peso “escorrer” de você!

Sem esquecer que são nossas feridas – ou a cura delas – que nos permitem “saltos quânticos” na evolução de nossa Alma e na total renovação de nossos “Contratos Sagrados”. Mas isso, Queridas Pessoas, é assunto para um outro post!