Há uma longa fila de antepassadas atrás de mim – curandeiras, parteiras, mães, filhas, esposas, administradoras ou cuidadoras de uma casa. As bênçãos e os fantasmas destas mulheres chegam até mim neste 25 de Dezembro onde uma chuva fina após dias de calor escaldante refresca as plantas e a Alma.
Algumas dessas ancestrais eram secas e sofridas, não tinham nenhum amor para passar adiante. Então passaram força, teimosia, perseverança. Outras tinham tanto amor manifestado em remédios e benzeduras para toda a comunidade que passaram adiante um senso eterno de compaixão e serviço, fonte da qual me alimento todos os dias.
Outras ainda eram animadas por uma fé e uma prática católica que as sustentaram em vida, sempre com os olhos na recompensa de um possível Paraíso. Maria, José, Jesus e, é claro, o Pai Onipotente & Onipresente – aquele que julga e recompensa os justos. Com seus terços e rezas essas antepassadas enchem meu domingo de Natal com murmúrios longínquos… Ave Maria, cheia de graça…
Dessa longa fila de antepassadas chegam os gemidos dos inúmeros partos, os cheiros de diferentes tradições culinárias e um senso prático que pertence às mulheres que oferecem o alimento físico e emocional para aqueles que estão sob seus cuidados.
Então hoje, por causa delas, neste dia de Natal quando todos honram e lembram o nascimento do Filho, quero honrar o veículo Sagrado que O trouxe ao mundo – a Mãe. E honrando a Mãe da Criança Sagrada, honro todas as mulheres que com seu ventre abençoado, povoaram o mundo desde o início da presença humana na Terra.
Com este texto quero honrar e enviar uma luz de amor e reconhecimento às Mães do mundo: as que estão gestando ou parindo neste momento. Honrar as que podem criar os filhos com tudo o que eles necessitam e as que lutam para colocar algum alimento sobre a mesa. Quero honrar também todas aquelas que ficam entre estas duas polaridades.
No dia de Natal, dia de nascimento do Filho, o nosso Grande Irmão, quero honrar e lembrar as mães que perderam seus filhos para a morte. Que esta dor inimaginável para quem não a viveu receba o alento de compaixão de cada pessoa que esteja lendo estas linhas agora. Convido você, leitor, a fechar os olhos por um momento e orar por estas mães que perderam o fruto de seu ventre para o Ciclo da Morte.
Eu os convido também a orar hoje, dia do nascimento do Filho, pelas mães que têm filhos perdidos nas guerras, no tráfico, na maldade, na loucura, no ódio, nas seitas, na bandidagem, no trabalho com as Egrégoras das Trevas, nos vícios em geral. As mães que neste dia de Natal não sabem como, onde e com quem seus filhos estão. E, principalmente, que não sabem se vão voltar para casa um dia.
No dia do nascimento do Filho, eu os convido a orar pelas mulheres que são Mães presas, torturadas, apedrejadas, mutiladas, abandonadas, oprimidas pelo simples fato de terem nascido mulheres. Vamos orar hoje por essas mulheres e suas filhas que nasceram numa cultura ou tradição onde ser mulher é um pecado e uma desonra, mesmo tendo o Ventre Sagrado onde a Divindade e a Natureza co-criam com o humano o Milagre da Vida.
Ouvindo o murmúrio das preces das Mães que nos antecederam, sentindo a presença desta longa linhagem de mulheres que foi passando para a geração seguinte o dom da vida, oremos hoje em gratidão pelas Mães e pelas mulheres que não são e não foram Mães, mas que fertilizam e sustentam ideias, projetos, família, comunidades. Eu os convido também a orar pelas Mães-em-Ser que lutaram e lutam para tornar seu ventre fértil, mas que ainda não tiveram a bênção de conceber.
No dia do nascimento do Filho, honremos também a Mãe, aquela que foi o sustentáculo emocional da Missão do filho avatar, Jesus. Aquela que tem “um trono ao lado do Pai”, mas não é chamada de Deusa. A que intercede, concede, influencia, suaviza as duras decisões do Deus justo, a Mãe de Todos. Aquela que reúne peregrinos e opera milagres, a que tem templos em toda a face da Terra, mas ainda assim não tem o título de Deusa. Aquela que consola os aflitos, atende os desesperados, protege a humanidade, mas não tem o mesmo “status” do Deus Pai. Assim na Terra como no Céu.
Ainda ouvindo o murmúrio das rezas de minhas antepassadas, recebendo o legado de força e poder que é Ser mulher, faço hoje uma prece a Ela, Maria a mãe de Jesus e a todas as mulheres que carregam o legado desta grande mulher que se iluminou no Serviço de ser Mãe e Sustentadora. Hoje, dia de Natal, reconheço e honro o legado do Filho, mas coloco meus olhos de gratidão na Mãe.
Diante desta multidão de mulheres – do Passado, do Presente e do Futuro, herdeiras do tão temido Poder Feminino, eu coloco minha testa no chão em reverência e digo hoje, no dia do nascimento do Filho, benditas sejam!
Cler querida, você iluminou meu domingo de Natal.
Obrigada sempre, minha irmã de todas as horas e caminhos.