Adoro esta palavra: Processo.
Processo é igual a: lunações, tempo no tempo, espaço interno e externo, tempo para “reformatar o drive”, como eu costumo dizer.
Para inspirar sua caminhada, vou lhe contar a história da Deusa Cerridwen, a Poderosa Alquimista do Caldeirão. Cerridwen é a guardiã do caldeirão da inspiração e sabedoria. Ela rege os ciclos do renascimento – vida, morte e nascimento. Seu animal sagrado é a porca, por simbolizar a Deusa da Morte grávida; e também os gatos brancos.
“É considerada a grande Iniciadora nos mistérios sagrados. Seu nome significa ‘Caldeirão da Sabedoria’. Ela também foi chamada de Caridwen, Ceredwen, Ceridwyn, variações de seu nome original.(…) Cerridwen viveu em uma ilha no meio do lago Tegid (O lago Bal, ao norte de Gales) onde era a Senhora do Lago. Teve dois filhos, Creirwy, a mulher mais bela do mundo, e Afagddu, o menino mais feio da Terra. Para compensar a feiúra de Afagddu, Cerridwen decidiu lhe presentear com o Dom da inspiração e da sabedoria por meio de seu Caldeirão do Conhecimento, o Caldeirão da Deusa, que se encontrava no submundo. A poção que residia em seu interior deveria ferver em fogo brando por um ano e um dia até que estivesse pronto para ser bebida. Ervas mágicas e flores foram adicionadas na passagem de cada estação, colhidas em seu tempo mais indicado e de maior poder. Um homem velho foi contratado para mexer a poção sem parar, enquanto um garoto de nome Gwion deveria alimentar o fogo com madeira de forma que ele jamais se extinguisse. Ninguém poderia tocar ou beber a poção, sob nenhuma hipótese.”(Claudiney Prieto)
Bem próximo ao final do tempo necessário, três gotas saltaram da fervura no dedo de Gwyon e este o levou à boca, obtendo assim todo o conhecimento e sabedoria que estavam destinados a Afagddu. Gwyon fugiu, com medo de Cerridwen, que o perseguiu por terra, céus e mares. Agora Gwyon era capaz de mudar de forma, ele e a Deusa tomaram diferentes formas, até que Cerridwen, transformada em galinha negra o engoliu quando ele se transformou em um grão. Ao voltar à sua forma, Cerridwen percebeu que estava grávida e, nove meses depois, deu à luz um lindo menino, o próprio Gwyon, renascido do ventre da Deusa. Mas, ainda assim, ela prosseguiu em sua vingança, colocando o bebê numa bolsa de couro e jogando-o no mar dois dias antes de Beltane.
O menino foi resgatado pelo Príncipe Elphin, que lhe deu o nome de Taliesin, que mais tarde se transformou no maior bardo de toda a Bretanha. Morto, regenerado e transformado no ventre da Deusa, ele renasce inspirado, cheio de dons e talentos.
Precisamos fazer de nosso processo de cura um caldeirão mágico aonde nós vamos acrescentando as ervas, pedras, flores, palavras e atos ao longo de um ano e um dia, e um ano de 13 meses, como era o calendário lunar matriarcal, falando metaforicamente.
Para sairmos renascidos do outro lado do Caminho, precisamos ser aquela pessoa que tanto acrescenta os elementos certos, como se livra do que estraga a mistura-da-vida. Precisamos ser capazes de buscar a ajuda necessária e ao mesmo tempo ser aquela que também mantém o fogo do caldeirão em fogo lento, para poder dar conta do que emergir do fundo do rio das memórias traumáticas.
Então não vou enganar você: esse negócio de desabilitar estratégias de sobrevivência furadas, de mexer com seus medos e consequente padrão de controle, vai ser como morrer e renascer. Só que como Gwyon, renascer mais perto da sua natureza e num outro patamar de conectividade com todos ao seu redor. Vai ser preciso paciência para gestar o processo e entender que muitas vezes (muitas vezes!) você vai retornar às velhas dinâmicas de controle e medo já conscientizadas e que até isso faz parte do processo: ao estar lá de novo vai relembrar o quanto é um lugar desconfortável. E como “onde não há incômodo, não há transformação” como eu gosto de dizer aos meus alunos, você vai querer sair bem rápido e retomar o lugar de consciência que foi capaz de alcançar através do seu próprio mérito, do seu próprio trabalho de “pessoa escavadora” de sua terra interna.