Este post é para as mulheres, mas se você é homem e, especialmente, se você é um homem que tem ou vai ter mulher e filhos, entender esta dinâmica das mulheres pode ser muito útil para achar lugar, compaixão e compreensão para as atitudes das mulheres importantes da sua vida, inclusive sua mãe.
Alguns homens vão também se identificar com o que vai ser escrito aqui, pois também sentem um “desgosto” e uma culpa por não poderem mais ser parte ativa no dia a dia da Tribo.
Seres humanos são programados biologicamente para estar em tribos, clãs e linhagens. Isso porquê somos uma espécie relativamente frágil e pouco equipada para uma sobrevivência em meio selvagem: não temos garras, chifres ou um corpo especialmente forte para lutar. Nossos filhotes não sobreviveriam antes de vários anos sem a presença de um cuidador/provedor. Enfim, o que nos diferencia de todo o resto dos animais é nossa capacidade de pensar e nossa criatividade para vencer as adversidades da natureza com criações que garantem a sobrevivência. Por isso mesmo, somos criaturas que vivem em bandos ou comunidades. Ao longo das eras nos protegemos das intempéries, dos animais selvagens e das dificuldades da matéria nos reunindo em clãs, tribos e comunidades que garantiam a sobrevivência de nós mesmos e nossos preciosos dependentes.
Por eras de nossa relativamente breve presença neste planeta, nos reunimos em tribos e comunidades. Conforme estas comunidades foram crescendo e se tornando complexas, tornando impossível conhecer ou relacionar-se com toda a tribo, nosso senso de comunidade ficou restrito à família de origem ou Clã: pai, mãe, tios e tias, avós, sobrinhos, primos. Vivíamos perto um dos outros e estávamos em constante movimento de união, proteção, ajuda e troca.
Porém, depois dos anos 70, esta estrutura novamente se esfacelou porque as pessoas – em busca de oportunidades profissionais – começaram a viver longe da família de origem. Além disso, a velocidade do mundo e sua exigências aumentou, de forma que o senso de Clã se perdeu.
A partir daí, estabelecemos o nosso senso de Tribo dentro da nossa família menor – marido + mulher + filhos. E todas as variações possíveis: homem + homem + filhos; mulher + mulher + pai + filhos, etc. Por isso hoje também tantos homens e mulheres envolvidos em relacionamento homoafetivos desejam casar oficialmente e ter filhos – é o velho e bom desejo de ser TRIBO, de pertencer SEM SOMBRA DE DÚVIDA a um grupo unido pelos laços do amor.
Toda esta introdução é para chegar ao tema deste post: o senso de Tribo que é perdido quando uma família com filhos se desfaz e por quê são as mulheres que, de modo geral, sofrem mais com esta perda da “família”. Observe que estou falando não de perda do PARCEIRO, mas de perda da FAMÍLIA, isto é, da TRIBO.
Vamos entender porque as mulheres de modo geral demoram mais para se recuperar plenamente de uma separação quando têm filhos. Vamos entender a BIOLOGIA, o DESENHO original da biologia feminina. Feministas ou não, libertas ou não, independentes ou não, nosso Programa Biológico é o CUIDADO da vida, a sustentação de filhos, projetos, idéias.
Segundo a versão de muitas autoras e autores estudiosos do assunto, foi a mulher que criou e trouxe melhorias em prol da sobrevivência de seus rebentos: a tecelegem, os potes cerâmicos para cozinhar, a agricultura e a irrigação são criações femininas. Diz Nancy Tanner, “comparando o desenvolvimento humano com o dos chipanzés, supõe-se que a inovação chave para o desenvolvimento humano desde nossos ancestrais símios foi a coleta de plantas e pequenos animais, como insetos, para compartilhá-los com suas crias.” Segundo este ponto de vista, a cultura emergiu, em parte, do ato de preocupar-se com os outros e coletar a generosidade da terra e não do ato de matar. Traduzindo: foi a mulher, preocupada com a sobrevivência do filhote, que uniu a tribo ao redor de técnicas que garantiriam alimento, calor e comida para a comunidade durante todas as estações.
Estar em Tribo está no desenho original de cada mulher sobre a Terra, por isso, é maior do que ela.
Olhando a questão deste ponto de vista, o divórcio do homem que ocupa na vida desta mulher o lugar de Rei ou Guerreiro sendo pai de seus filhos e com quem ela forma SUA TRIBO costuma ser devastador, mesmo que tenha sido um desejo desta mulher por não querer mais uma parceria amorosa com o marido. Aseparação da parceria amorosa ela pode entender, disso ela se separa facilmente e sente um alívio enorme quando aquele espaço de Parceiro fica desocupado e livre para novas experiências. Mas então depois de um tempo ela percebe que fica irritada, raivosa ou ciumenta quando vê o ex construindo uma nova família ou deixando os filhos em segundo plano na sua nova vida longe da Tribo. E ela se pergunta: – mas porque me sinto assim, será que quero esse homem de volta? E todo seu ser diz com força: nããããão!!! É a perda da Tribo. E porque ela não pode formar um nova tribo, com outra pessoa? – você me pergunta. Ela pode, mas não há como alguém ocupar o LUGAR do pai dos filhos, isso simplesmente não é possível. Por isso tantas mulheres voltam para a tribo dos pais e parentes logo que se separam – é o lugar que substitui e ajuda a curar o senso de ter se perdido da tribo.
Bert Hellinger, filósofo alemão criador do conceito das Ordens do Amor nas Constelações Familiares é bem claro que cada pessoa precisa ter seu LUGAR na constelação familiar, senão o sistema não tem paz.
Recebi na semana passada em meu consultório para um Aconselhamento seguido de sessão de Cura Sistêmica, uma linda e poderosa mulher. Divorciada há três anos, com dois filhos adolescentes, independente e bem sucedida profissionalmente e num novo e significativo relacionamento, não conseguia lidar com uma melancolia e tristeza relacionada com a sua separação, embora estivesse “muito melhor” e tivesse feito “tudo direitinho” na separação – período de luto, período de “libera geral”, seguido de um novo e profundo relacionamento. Porque continuava a se incomodar com a “vida nova” do ex-marido, me perguntava ela. Expliquei para ela o senso de Tribo que ela tinha com o pai dos filhos. E contei dessa parte íntima e secreta que permanece congelada e dissociada do tempo atual e que segue se comportando como uma mulher cujo marido foi para a guerra e pode voltar a qualquer momento. Uma parte inconsciente e pequena continua se sentindo e agindo como uma MULHER CASADA. Uma mulher casada não forma tribo e não se entrega completamente a outro homem ou outros relacionamentos tribais que substituam a presença deste companheiro. É esta parte que precisa crescer e se atualizar. E como se faz isso? – me perguntou ela, alarmada.
O primeiro e importante ponto é ter consciência de que esta dinâmica inconsciente está acontecendo, isto é, reconhecer que esta dinâmica está em andamento, consciente ou inconscientemente. É importante “conversar” com esta parte de si mesma, explicar como se explica para alguém muito jovem e imaturo, a importância de reconhecer que aquele marido não vai “voltar da guerra” e que é preciso deixar entrar outra ou outras pessoas na sua vida que podem formar uma nova Tribo com você e seus filhos.
E, SUPER IMPORTANTE é dar um lugar para este ex-marido na ORDEM de sua família. Ele é e sempre será, o PAI de seus filhos. Ele precisa ser HONRADO neste lugar, INDEPENDENTE DE SER UM PAI BOM OU RUIM (ou ao fato de corresponder ou não ao seu conceito de bom pai/mau pai). No momento em que ele fertilizou o seu óvulo, ele passou a ter um lugar na ORDEM DO AMOR da sua família. Isso vale também para o ex-marido e sua possível nova esposa – é preciso dar o LUGAR para a mãe dos filhos e é um lugar de PRECEDÊNCIA, pois ela veio primeiro na vida daquele homem. Não precisa ser amigos, não precisa se relacionar se não desejam, apenas deixar um LUGAR. Isso traz paz para o sistema, o que é bom para todos. Se você quer se aprofundar neste assunto, recomendo a leitura do livro A Simetria do Amor, de Bert Hellinger.
Quando existem ainda pendências emocionais e energéticas, aconselho a leitura do post Cortando Laços, liberando o fluxo da Vida, e especialmente, a prática sugerida no final do texto.
Participar de grupos que funcionam como sistemas vivos, onde você se sente radicalmente incluída e aceita podem ajudá-la a recuperar o senso de Tribo.
Porém, cada pessoa é uma pessoa. Por isso, pode ser que você apenas precise da consciência da dinâmica interna e ache suas próprias maneiras de curar e equilibrar isso.
Eu, que me separei há cinco anos e escrevo estas coisas porque estas foram dinâmicas internas que fui conscientizando e curando, lhe digo que é perfeitamente possível reconstruir o senso de Tribo, incluindo ou não um novo parceiro no “lugar” de marido.
Sobre encontrar a Tribo onde você sentirá Inclusão Radical e total senso de Pertencimento? Ah, isso é o assunto do um dos próximo posts. Um abraço de ursa e até lá!